parto de palavras

rosane coelho

Textos


 MAR E MATO



         
Sou filha da cidade. Sou bicho do litoral. O mar me encanta, mas não assombra. Admiro-o subjetivamente. É isso, achei: o mar é lindo pra ser visto... Mas, concretamente, tô fora. Não gosto de calor, de sol nem de areia grudada no corpo. O que é que eu vou fazer em praia? Contemplar: os matizes da água, os peixes pulando, os pássaros sobrevoando e repartindo , fraternalmente, com os pescadores em seus barcos, o alimento brotado da seara líquida. Mas de tudo, o que mais me maravilha mesmo, é o fluxo e o refluxo constantes... Igualzinho à vida nossa de cada dia: o mar que veio e foi não é o mesmo que no momento seguinte virá e irá... Mergulhada nessa observação, valorizo cada vez mais o instante. Sempre único, irreprisável. E, mais do que tudo: irrecuperável...

          Lugar mais mágico que mar, no entanto, é mato. Mato, rio e cachoeira. Cortando a mata, devagarzinho, vem um riacho. Desses magrinhos, que vão engrossando aos poucos, tomando corpo, correndo em leito de pedras que de arestadas roliçam, produto de muito carinho ou trambolhão de água. De repente já é rio gordo e barulhento. E se o caminho dele se interrompe de súbito, despenca do alto da rocha em susto de cachoeira resfolegante...

          Fiz essas considerações pra comunicar aos amigos desse Recanto que amanhã estaremos indo pro mato. Eu e minha família. Vamos visitar o Chico no berço. Vamos ver o velho nascer. Aproveitar enquanto ele ainda está à disposição dos nossos olhos e do nosso espírito. Tô muito cabreira com essa estória de transposição das águas do Rio São Francisco... Sei lá o que vão aprontar com ele... Vocês se lembram de Sete Quedas? Pois é...

          Deixo aqui um carinho pra cada companheiro de ler, escrever e comungar. Até a volta!


Rosane Coelho
Enviado por Rosane Coelho em 13/01/2006
Alterado em 13/01/2006


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