13/08/2006 11h43
NA MANHÃ DO MILÊNIO
(Thiago de Mello)
De que valeu o assombro indignado e esta perserverança que me acende em pleno dia a estrela que me guia, seguro do meu chão e do meu sonho? De que valeram todos os prodígios da ciência mergulhando nas funduras mais escuras da terra e dominar jamais imaginadas vastidões para encontrar a luz fossilizada? Do que valeu meu passo peregrino pelo tempo, meu grito solidário, a entrega ardente, o castigo injusto, o viver afastado do meu povo, só porque desfraldei em plena praça a bandeira do amor? Do que valeu se hoje, manhã deste milênio novo, avança, imensa e escura bem na fronte a marca suja da miséria humana, gravada em cinza pela indiferença dos que pretendem donos ser da vida, avança escura uma legião de crianças deserdadas do amor e todavia capazes de sorrir: maior milagre do século perverso que findou? De que valeram todas as palavras que proferi na treva da esperança? Tão pouco, talvez nada. Não consola saber que fiz, que fiz a minha parte, que reparti com tantos o diamante, que olhei o sol de frente e não fugi (nem do meu próprio medo). De consolo não cuido. Pois valeu. Que tudo vale a pena quando a alma não é pequena.* Não sei o tamanho da minha alma. Só sei que vou varando o fim do rio, já posso discernir a margem que me chama. Mas obstinado confiante sigo no poder distante da estrela alucinante. Que destino de estrela é o de brilhar. E mesmo extinta brilhante permanece sobre o mundo. * Verso de Fernando Pessoa Homenagem aos 80 anos de Fidel Castro, estrela viva que permanece sobre o mundo iluminando o caminho da igualdade social. Publicado por Rosane Coelho em 13/08/2006 às 11h43
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