parto de palavras

rosane coelho

Textos


             SÓ OS INIMIGOS ME MANDAM FLORES



          Não é bem como está escrito aí no título, não. Tem amigo desavisado que também manda ou entrega pessoalmente , crente que está abafando, belíssimos buquês de flores naturais. Flores do campo supercoloridas, rosas perfumadas, margaridas singelas e até tulipas raras. Coloridas, perfumadas, singelas, raras e mortas. Mortas desde o momento em que foram colhidas.

         
Para quem o recebe, o presente logo se faz acompanhar por uma agonia diária: cortar enviesado um pedacinho de cada cabo, dissolver um comprimido de aspirina na água trocada, ficar andando com a jarra pela casa fugindo do sol. Toda essa ginástica para adiar o momento de jogar no lixo um monte de flores secas e com cheiro pra lá de esquisito.

          Toda vez que recebo flores naturais não consigo disfarçar a cara de caneca. Aliás, faço um parêntese para registrar que adoro
ganhar canecas, principalmente as de ágate, com jeitinho de roça...

          Caramba! Tem flor de pano, plástico, papel, casca de árvore, resina, palha. Aqui em casa tem até flor de barro enfeitando o oratório de São Francisco. Um mimo! Por que, então, cortar as pobrezinhas do pé? Lugar de flor de verdade é no jardim, enfeitando o mundo, junto com borboleta e joaninha. Quando ela chega na jarra, já deixou de ser...

          E por falar em deixar de ser, tenho um trato com os mais chegados: quando eu virar purpurina, nem um cravinho por perto.

          Imagina que desagradável: alguém ganha uma braçada de flores, sente o cheiro daquele matinho verde que vem junto - só pra fazer volume - e fica lembrando de mim naquela situação... 

          Nem morta, santa! Nem morta!
Rosane Coelho
Enviado por Rosane Coelho em 25/12/2005
Alterado em 01/01/2006


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