CRÔNICA DE ANO NOVO
Areia de praia é coisa enganosa. A gente desenha um coração caprichado, escreve lá dentro o nome do amado e ainda arremata com flecha transpassando... Vem uma onda mais compridinha e carrega aquele amor todo enfeitado... O mar se recolhe e fica achando que quando recuou, levando a paixão homenageada, transformou tudo numa massa consistente, empapada, escura. Além de apagar o amor, ainda fez ele virar lama... Embuste de areia: é só abrir um solzinho que ela se esfarela toda de novo. Se revira naquele pó que até brilha um pouquinho e escapole por entre os dedos da gente. Areia é matéria livre. Às vezes o homem pinta ela de um monte de cores, prende numa coisa de vidro e chama de ampulheta. Fica lindo! Um primor de brinquedinho: aqueles grãozinhos coloridos atravessando de um botijãozinho de vidro pro outro através de uma passagem bem estreitinha, marcando a passagem do tempo que nos escraviza... Vingança de areia em cativeiro... Areia é matéria livre.... e dissimulada. PS: Essa crônica tem PS, motivado pela justificativa necessária da inclusão dessa imagem, especificamente. Por sua beleza se justifica... Essa foto foi tirada em janeiro/2007, e os "seres" que aparecem, como se estivessem saltando por sobre as nuvens, são as minhas filhas. Esse lugar fantástico é o Salar de Uyuni, na Bolívia. É um deserto de sal. O efeito da foto deve-se ao resto da chuva que caiu no dia anterior, formando uma fina camada sobre o sal e transformando-o numa espécie de espelho, a refletir o céu. Que em 2008 possamos levitar sobre as improváveis nuvens de aflição que ousem tentar encobrir o azul do céu de nossas inexoráveis alegrias! Muito obrigada aos amigos do Recanto e do Parto de Palavras que me dedicaram a delicadeza da leitura e, muitas vezes, do comentário sempre carinhoso. A todos, meu afeto. Rosane Coelho Rosane Coelho
Enviado por Rosane Coelho em 30/12/2007
Alterado em 02/01/2008 |