parto de palavras

rosane coelho

Textos


SOBRE A MOÇA DE MINISSAIA


Vivemos a era da fluidez em todos os campos de nossas vidas.
Nesse contexto, os relacionamentos que antes eram namoros, paqueras, noivados, casamentos, passaram a (des)envolver, provavelmente de forma predominante entre os mais jovens, ficantes e peguetes.
Além de fluidos, mais do que nunca, vivemos tempos mutantes.
O que hoje "já é", amanhã "já era".
Quanto aos hábitos e costumes da juventude atual, predomina uma massificação, que beira a clonagem. São todos muito parecidos entre si, em fundo e forma. Para as meninas, cabelo de escovão, corpo malhado na academia, minissaia e saltão. Os meninos também têm seus modelos a serem (per)seguidos.
No jogo da sedução um gênero se comporta e se apresenta na forma que supõe desejada pelo outro gênero.
Nesse cenário aconteceu o episódio da aluna de minissaia numa Faculdade de São Paulo,  vítima de grotesca e desmedida agressão pelos seus próprios pares, pelos seus iguais. Sim: grande parte daqueles que a agrediram, se do gênero feminino usam roupas  bem parecidas com a dela; se do gênero masculino, admiram aquela forma de vestir em suas ficantes e peguetes.
Então o que aconteceu? Hipocrisia? Bullying?
Sei lá... Penso que foi uma mistura desses ingredientes, mas gostaria de levantar, a título de reflexão, a possibilidade da moça de vestido curto ter servido de espelho para seus pares, que, ao se verem refletidos nela, rejeitaram a imagem que lhes era apresentada, passando a agredi-la. Nessa interpretação, a reação seria uma forma de negação de suas próprias características. O julgamento sumário da vestimenta da moça poderia ser visto como a manifestação de um superego grupal (acabei de inventar a expressão, ou não?...).
Em resumo e finalizando, levanto a hipótese daqueles jovens agressores encarnarem um Narciso às avessas, achando feio o que é espelho...



Imagem: rafal olbinsky

Rosane Coelho
Enviado por Rosane Coelho em 15/11/2009
Alterado em 16/11/2009


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