parto de palavras

rosane coelho

Meu Diário
23/09/2006 23h24
ENCANTAÇÃO DA PRIMAVERA
(Mário Quintana)


Brotam brotinhos na tarde feita
Só de suspiros:
O amor é um vírus...
Apenas o general de bronze continua de bronze!
O vento desrespeita todos os sinais do tráfego.
Velhinhos de gravata borboleta
Sobem e descem como autogiros.
O guarda de trânsito virou catavento.
As mulheres são de todas as cores como esses
manequins expostos nas vitrinas,
E onde é que estão, me conta, as tuas esperanças
mortas?!
Lá vão elas – tão lindas – vestidas de verde
Como Ofélias levadas pelos rios em fora
Enquanto eu nem me atrevo a olhar para o alto:
repara se não é
O Espírito Santo que vem descendo em lento vôo
E até ele, até Ele, deve estar assim, – todo irisado
Como os olhos das crianças, como as maravilhosas
bolinhas-de-gude!

* Texto enviado por Nédier e imagem por Nilmar *


Enquanto houver tardes feitas de suspiros, a esperança sobreviverá em flores nas janelas ou em brilhos de olhos infantis... Almas florindo na estação ou fora dela, em eterna primavera!

Publicado por Rosane Coelho em 23/09/2006 às 23h24
 
21/09/2006 22h18
CONSULTA POÉTICA
"Até amor tem efeito colateral..."
(Dr. Aloysio Fonseca)

Inspiradíssima resposta do Dr. Aloysio ao ser indagado se antidepressivos têm efeitos colaterais... Depois dessa, nada mais lhe foi perguntado. "Viver é um perigo!"

Tela: Salvador Dalí

Publicado por Rosane Coelho em 21/09/2006 às 22h18
 
17/09/2006 12h32
POÉTICA
(Vinícius de Moraes)

Meu quando é agora.
Como na letra de "AQUI" (ou Memórias do Cárcere), do poeta Lirinha pro Cordel do Fogo Encantado:
"entre a noite que vai e o dia que vem".

* A imagem poética veio do Baú da Nédier *

Publicado por Rosane Coelho em 17/09/2006 às 12h32
 
14/09/2006 20h24
O QUE HÁ
(Álvaro de Campos)

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

* Texto e imagem do Baú da Nédier *

Ufa! Esse poema lindo, que acolheu o meu cansaço, remeteu-me a um conto que li ontem: "Omelete de Amoras", de Walter Benjamin. "Há sem dúvida quem ame o infinito, há sem dúvida quem deseje o impossível...". Tomar objeto de desejo como objeto de consumo é encharcar a vida de infelicidade, deixando-se invadir por um cansaço de frustrações. O meu cansaço é como o do poeta: um cansaço feliz e infecundo. P a s s a g e i r o .

Ah! O "Omelete de Amoras" qualquer dia transcrevo aqui. Quem chegar ao final da leitura não vai se arrepender...

Publicado por Rosane Coelho em 14/09/2006 às 20h24
 
11/09/2006 23h37
OPINIÃO


Sou mutante. Não anseio a majestades cristalizadas em palavras que não voltam atrás. Eu volto palavras, gestos e sentimentos. Mudam tempos, momentos, situações, mundo... Por que não mudo eu? Livrai-me do engessamento burro da prepotência! Peço desculpas e me sinto aliviada. Se o outro vai desculpar ou não depende do grau de irredutibilidade dele. Aí já não é comigo. Repensar é consertar. "Eu não sou sempre da minha opinião." Considero a sua e, se for o caso, reconsidero a minha. (rosane coelho)

Em Tempo: a afirmativa em destaque é de autoria de Paul Valéry. O comentário é meu.

Publicado por Rosane Coelho em 11/09/2006 às 23h37



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